DEGEO

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8 de ago. de 2011

PERFIL DA MULHER NOVA OLINDENSE


MARIA LETICIA SOARES CALDAS*
PATRÍCIA RAFAELA RUFINO DOS SANTOS*


Introdução

Atualmente estamos presenciando uma acessão cada vez maior da mulher na sociedade, fruto de lutas e conquistas realizadas por elas que acarretaram transformações econômicas, social e cultural na sociedade, modificando a vida e cotidiano não apenas da mulher, mas da sociedade em modos gerais.
Partindo das reivindicações de seus direitos especialmente de natureza econômico-social, avançaram em seguida os trabalhadores as reinvidicações políticas e finalmente, se empenharam na conquistas de bens culturais e morais (...). Torna-se a mulher cada vez mais cônscia da própria dignidade humana, não aceita mais ser tratada como objeto ou instrumento, reinvidica direitos e deveres consentâneos com sua dignidade de pessoa, tanto na vida familiar como na vida social. (MURARO, 1967).

O papel que a mulher desempenha perante a sociedade é um importante instrumento para a produção do espaço urbano que se consagra de forma dinâmica. Avaliando a literatura que aborda essa temática percebemos uma carência de pesquisas sobre o perfil da mulher nas cidades pequenas e do interior e em contrapartida encontramos um número razoável de estudos sobre a história da mulher numa dinâmica global. Consideramos uma cidade pequena, de acordo com os indicadores do IBGE (2010), com uma população de 14.256 mil habitantes.


Objetivo

Nosso objetivo é traçar o perfil da mulher do século XXI em cidades pequenas, partindo-se de pressupostos e análises desenvolvidas na cidade de Nova Olinda, sul do Estado do Ceará.
A escolha de Nova Olinda deu-se a partir de necessidade de se fazer uma análise de uma cidade considerada como pequena com o objetivo de verificarmos a diferença do perfil da mulher nova olindense com o perfil da mulher brasileira, pois são diversos os fatores que influênciam a sociedade e consequentemente a mulher, fatores estes históricos, econômicos e políticos que posteriormente serão discutidos.
A produção deste artigo foi precedida de pesquisas qualitativas e quantitativas, visita a órgãos públicos como prefeitura municipal de Nova Olinda, ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), seguido de observações de campo e levantamento bibliográfico.
Nossa ênfase foi focar o cotidiano social da mulher, tentando compreender a realidade em que estão inseridas através da identificação de fatores que a levaram para a dinâmica atual. Após uma revisão histórica da mulher em termos gerais, iremos aborda a trajetória da mulher nova olindense até a configuração atual.

A Mulher Global e Brasileira

Apenas nos inícios do século vinte começou nos países desenvolvidos o movimento pela emancipação da mulher (MURARO, 1963). Segundo Leal e Monteiro (1998, p.9) as mulheres sempre lutaram por seus direitos na sociedade.   
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                
A luta das mulheres por seus direitos tem raízes profundas no passado. Sua história foi escrita cotidianamente, ao longo dos séculos. Um processo feito de certezas, equívocos, contradições, avanços e recuos. O termo feminista data do século XIX. (MONTEIRO e LEAL, 1998).

Foi apenas após duas grandes guerras mundiais que a mulher começou seu processo de emancipação, em muitos casos os homens iam para a guerra deixando sua família para trás, muitos morreram e muitas mulheres sentiram-se na obrigação de deixar a casa e os filhos para levar adiante os projetos e o trabalho que eram realizados pelos seus maridos.  A mulher, mãe que até então, era submissa ao seu pai, seu marido torna-se obrigada a trabalhar para poder manter sua família e consequentemente tentar alcança seu lugar no mercado de trabalho, como afirma Monteiro e Leal (1998, p.15):

As duas grandes guerras foram responsáveis em parte, pelos espaços ocupados no mercado de trabalho pelas mulheres. Nessa ocasião, foi constatada a aptidão feminina para o exercício de diversas funções, mas, com o final da guerra e o retorno dos braços masculinos, foi reativa a valorização da mulher no espaço doméstico retirando-se do mercado de trabalho. Novamente a imagem da mulher como mãe, dona de casa e esposa foi reforçada, através dos meios de comunicação. (MONTEIRO e LEAL, 1998).
                      
                                       
No século XIX, com a consolidação do sistema capitalista inúmera mudanças ocorreram na produção e na organização do trabalho feminino. Com o desenvolvimento tecnológico e o intenso crescimento da maquinaria, boa parte da mão-de-obra feminina foi transferida para as fábricas, no entanto suas condições de trabalhos eram péssimas.

As mulheres... Eram exploradas, chegando a uma jornada de trabalho de até 18 horas por dia, ganhando salários inferiores aos homens. Os patrões justificavam essa situação considerando que as mulheres necessitavam de salários menores já que os homens a sustentavam. (MURARO, 1967).

Podemos visualizar melhor a inserção da mulher na sociedade e seu enriquecimento cultural, analisando os fatos sócio-econômico, que se desenrolaram desde o período colonial até a fase de industrialização do país. No Brasil as mulheres deram continuidade aos movimentos que ocorriam por todo mundo, participando de greves, denunciando maus tratos, sendo, por isso perseguida. Reivindicando melhores salários e o fortalecimento da consciência política.
A urbanização, que se acelerou na segunda metade de século XIX, e a industrialização grandemente impulsionada nos anos 30 do século XX afetou a organização da família brasileira. Esses dois processos alteraram as dimensões da vida da mulher, uma vez que ela teve seus papeis no mundo econômico modificado. As mulheres saíram progressivamente da reclusão no lar para trabalhar em fábricas, lojas e escritórios. Essa mudança de comportamento alterou a sua postura no mundo exterior. Muitas participaram de lutas políticas organizadas em grupos para repensarem sua situação no trabalho, na família e na sociedade, transformando principalmente a década de 50.

Os anos 50 foram marcados pela presença efetiva de mulheres em movimentos políticos. Atuaram, lutaram pela paz e pela anistia; contra a carestia, pelas conquistas trabalhistas, pela proteção a infância e contra o trabalho do menor. Continuaram se reorganizando e buscando a garantia de seus direitos. Participaram da greve dos ferroviários, assumindo papéis importantes, como a ocupação do telégrafo e paralisação do tráfego dos trens. (MONTEIRO e LEAL, 1998).
      

Como podemos perceber o movimento das mulheres nasceu e se fortaleceu reconhecendo as vivências próprias de cada uma. A partir dessas vivências construiu sua força e solidariedade.

A mulher de Nova Olinda

O município de Nova Olinda, localizado no sertão nordestino, sul do Estado do Ceará, segundo o ultimo censo demográfico de 2010 tem 14.256 mil habitantes, sendo 7.020 homens e 7.236 mulheres. Se observarmos a população feminina constataremos que além de serem maioria exercem grande influência nesta cidade.
A mulher desempenha um papel fundamental na economia nova olindense, apesar de Nova Olinda apresentar poucas alternativas de trabalho, onde os principais meios empregatícios são no setor público, no comércio e trabalho doméstico. Algumas se submetem a condições trabalhistas consideradas como absurdas, pois é inacreditável que em pleno século XXI apesar das leis em favor da mulher ainda haja exploração da mão-de-obra feminina.
Muitas dessas mulheres são obrigadas a trabalhar quase 12 horas diária para receber menos de um salário mínimo, algumas são mães de família que criam seus filhos sozinhas, adolescentes com faixa etária de 15 a 21 anos abandonadas por seu companheiros, lutam para sobreviver tentando escapar da pobreza que atinge hoje um segmento significativo da população nova olindense.
Apesar de Nova Olinda está em desenvolvimento é bastante visível o número crescente de evasão escolar, de jovens e adolescentes grávidas, que se prostituem em um município que não dispõe de políticas governamentais focadas na implementação de programas que visem o desenvolvimento sócio educativo do jovem.
Em relação à educação são poucas as mulheres que concluem o ensino médio, muitas se casam logo, constituem família. São raras as que cursam o ensino superior, considerando as principais formas de trabalho de Nova Olinda, se desanimam. No entanto é visível nos últimos anos um aumento crescente do número de jovens cursando a faculdade, mas estes são casos a parte.
O combate à desigualdade envolve a oferta de serviços sociais básicos, públicos e de caráter universal. Como mostra o exemplo da educação pública, disponibilidade deste serviço possibilitou as mulheres aumentar o seu nível educacional. Por isso é fundamental que se amplie esse serviço em Nova Olinda, segundo Monteiro e Leal, 1998.

A educação é um direito de cidadania e instrumento fundamental na conquista de igualdade entre os sexos. A garantia da oportunidade de acesso pelas mulheres a todos os níveis de educação, e seu caráter não discriminatório, são condições indispensáveis ao exercício da democracia e á superação dos preconceitos contra a mulher. (MONTEIRO e LEAL, 1998).

A mulher nova olindense como todas as outras mulheres também enfrentou preconceito, lutou pelo seu lugar na sociedade até chegar à dinâmica atual. Pode-se dizer que essas mulheres lutaram mais do que as outras, pois além dos preconceitos sofridos esbarraram em outras inúmeras barreiras como a fome, a pobreza, entre outros.

Considerações Finais

Tomando por base a cidade de Nova Olinda como campo de observação empírica, constatamos que a presença da mulher nas organizações da sociedade civil nova olindense tem crescido e tem sido marcante, contudo ainda é reduzida sua participação em alguns eventos, fazendo-nos questionarmos se a mulher ainda sofre algum tipo de preconceito.
Podemos constatar também que faltam políticas publicas em favor da mulher e das jovens, sugerimos a criação das mesmas visando à implementação de programas que objetivem, por exemplo, a redução da gravidez infantil, a preservação de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) entre outros.
Notamos que muitas mulheres se submetem a regras impostas pela sociedade, recomendamos que haja uma conscientização das mulheres por parte de sua capacidade profissionalmente , se qualificando, podendo assim alcançar novos horizontes. A criação de políticas publica preocupada com o desenvolvimento intelectual da mulher e de toda sociedade nova olindense, pois apesar das várias conquistas já alcançadas a mulher precisa se valorizar ainda mais dentro da sociedade.

Referências

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Senso demográfico 2010                                                   Disponível em:
FISCHER, Izaura Rufino. ALBUQUERQUE, Lígia. A mulher e a emergência da seca no nordeste do Brasil. Trabalhos para discussão. Universidade Federal do Pernambuco, Curso de ciências sociais. N.139, 2002.  
MONTEIRO, Angélica. LEAL, Guaraciara Barros. Mulher da luta e dos direitos. Brasília, 1998 (Coleção Brasil, 3).
MURARO, Rose Marie. A mulher na construção do mundo futuro. 4º Ed. Petrópolis, RJ: Editoras Vozes, 1967.
PORTO – GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2006.

Graduandos do Curso de Geografia do IV – Semestre
Disciplina – Geografia da População
Professor – João Ludgero Sobreira Neto

Um comentário:

  1. O artigo está muito bom pois fala da evolução da mulher ao longo da história, de suas lutas e conquistas de novos espaços,e do perfil das novas olindenses.Porém, achamos que elas poderiam ter especificado melhor (no 3º paragrafo do tópico A MULHER DE NOVA OLINDA)o método utilizado,se houve aplicação de questionários e a quantidade destes para se chegar a tais conclusóes, e depois debater em cima dos mesmos.No mais, o tema foi muito bem abordado.

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